O que você precisa saber sobre a introdução alimentar do bebê?
Existem algumas técnicas de introdução alimentar, mas o mais importante é respeitar o processo do bebê. Nós falamos mais a fundo sobre o assunto!
Os primeiros meses de vida do filho são recheados de descobertas e desafios para a mãe e o pai novatos.
As dúvidas são quase infinitas, e, junto das inseguranças relacionadas ao sono do bebê, as com relação à introdução alimentar estão entre as mais recorrentes nas consultas médicas. As perguntas são clássicas: “quando começar a dar os primeiros alimentos?”, “existe um truque para a boa aceitação?”.
Pensando em ajudar você nessas questões, batemos um papo com Marcela Casali*, nutricionista materno-infantil que trabalha com gestantes, bebês e crianças com seletividade alimentar. Ela nos ajudou com informações bastante ricas para esse momento especial. Acompanhe com a gente!
Quando começar a introdução alimentar, afinal?
Sabemos que, ao nascer, a amamentação é o principal alimento do bebê, certo? Por isso, grande parte dos profissionais recomenda o aleitamento materno — ou a fórmula — até os 6 meses de idade.
“O bebê precisa, antes, mostrar sinais de que está pronto para a introdução alimentar. Conseguir se sentar e ter controle do pescoço e da cabeça são alguns exemplos. Também, deve ter a capacidade de pegar objetos e levá-los à boca. Isso demonstra que está preparando a estrutura da boca e da língua para receber o alimento. Acontece por volta dos 6 meses, mas pode ser um pouco antes ou depois”, explica Marcela.
Assim, o ideal é não seguir dicas genéricas, mas entender a individualidade de cada criança. Às vezes, é só questão de dias para ela começar a demonstrar maturidade para experimentar os alimentos, tão rápido é o desenvolvimento!
E se eu iniciar a introdução alimentar antes do tempo? Existe algum risco?
Primeiro, é legal termos em mente o seguinte: cada caso é único; então, é possível que, em determinado contexto, o pediatra ou o nutricionista sugira, mais cedo, a introdução de um suco, por exemplo.
Isso, contudo, deve ser supervisionado pelo profissional, já que a introdução alimentar inadequada pode oferecer riscos. “Nos primeiros meses, o organismo do bebê só está pronto para digerir o leite materno ou a fórmula. Ele pode não conseguir metabolizar outros alimentos e, então, ter complicações”, alerta Marcela.
Nessas situações, vale prestar atenção à reação da criança. Muitas vezes, se ela não está preparada, acaba rejeitando a comida. Quando isso acontece, o ideal é não forçar. “Devemos começar devagar com a introdução alimentar. Nenhum bebê inicia comendo vorazmente. É importante respeitar o processo”, complementa a nutricionista.
Entre as técnicas de introdução alimentar, algumas delas é melhor?
Em geral, temos 4 tipos de introdução alimentar: Tradicional, BLW, Bliss e ParticipAtiva. Contamos sobre elas a seguir!
Tradicional
Aqui, a prática é a popular papinha. Alguns adultos acham mais fácil passar tudo no liquidificador, mas não é o jeito ideal. O recomendado é amassar o alimento e apresentar um de cada vez. Assim, estimulamos a mastigação e ajudamos a criança a reconhecer os sabores.
“A introdução alimentar serve para complementar a amamentação, e não substituí-la de uma vez. Então, a ideia é oferecer texturas e sabores diferentes, para que o bebê se acostume e goste dos alimentos”, comenta Marcela.
O alerta do liquidificador é que ele mistura sabores e deixa tudo em uma textura única. Fazer isso, vez ou outra, não tem problema, mas é interessante estimular a criança a ter acesso aos alimentos separados e testar a consistência com grumos.
BLW
BLW significa Baby Led Weaning (Desmame Guiado pelo Bebê). A técnica defende deixá-lo livre para experimentar e ingerir a quantidade desejada. Na prática, os pais permitem que o bebê fique à vontade, o que exige tempo e paciência, já que são comuns brincadeiras e muita sujeira.
“Na BLW, o bebê se alimenta sozinho, ao contrário da técnica Tradicional. Ele pega a comida e a leva à boca. Aqui, é importante que ele já saiba se sentar sozinho, e os alimentos precisam estar bem cortados, já que ele os amassará com a gengiva”, alerta Marcela.
Assim, a cadeira ideal é a que mantenha reta a coluna da criança e a deixe segura e confortável. Almofadas e rolinhos podem ser necessários para o cadeirão.
Uma dica que Marcela dá é, no primeiro momento, apostar no corte em forma de palito. Isso facilita que o bebê segure os pedacinhos e o ajuda a treinar a coordenação motora.
Também, é necessário ter atenção à textura: o alimento não pode estar cru (pois é muito duro), nem cozido demais (pois dificulta a pegada). E o mais importante: a criança precisa de supervisão constante.
Bliss
O Bliss é a sigla de Baby Led Introduction to Solids (Introdução de Sólidos Guiada pelo Bebê). É, basicamente, a BLW, mas com algumas adaptações.
“Aqui, o bebê continua se alimentando sozinho, e a ideia é aumentar a oferta de nutrientes, já que, na BLW, normalmente, isso é mais restrito. Assim, a recomendação é ter quatro tipos de nutriente por refeição, como proteína, ferro, vitamina C e alimentos com altos valores calóricos, que darão a energia necessária para o dia”, ensina Marcela.
ParticipAtiva
Já a ParticpAtiva é uma mistura da Tradicional com a BLW. Ela permite ao adulto ajudar a criança, mas também incentiva a autonomia.
“Quando falamos no método Tradicional, pensamos não só na papinha, mas, também, nas práticas mais antigas de introdução alimentar, em que a mãe e o pai oferecem na boca da criança e ela come antes dos adultos, assim como foi com a maioria de nós.”
Acontece que, dessa forma, o bebê fica mais passivo. O adulto define a quantidade de comida e, geralmente, o suficiente é só quando raspa o prato. Além disso, muitas vezes, a papinha é passada no liquidificador, pois assim é mais fácil e faz menos sujeira.
“Na BLW, é o oposto. O bebê se torna protagonista, e o adulto o supervisiona. Então, a ParticipAtiva vem para aqueles pais que se identificam com a BLW, mas nem sempre a seguem à risca”, explica Marcela.
Resumindo, há alternância das técnicas. Em uma refeição, oferecemos um alimento mais sólido, cortado em pequenos pedaços, e deixamos o bebê livre. Em outra, podemos preparar a papinha e ajudá-lo a comer.
Na opinião da nutricionista, essa forma é muito boa, mas cada família pode se sentir livre para decidir, junto de um profissional, o que dá mais certo para a criança. “Gosto muito dessa, pois estimula a autonomia, a mastigação e a coordenação motora. Ao mesmo tempo, o bebê também aprende se o ajudarmos a se alimentar”, considera.
Contudo, ela deixa um aviso que vale para qualquer método: “É importante oferecer o alimento de forma responsiva, prestando atenção à saciedade da criança, sem forçar. Também, é legal não fazer isso junto de telas — como televisão, celular e tablet —, já que ela se distrai e não segue sua autorregulação”.
Como montar um cronograma de introdução alimentar?
Para a maioria dos casos, a introdução alimentar deve ser encarada como uma complementação à amamentação e sem aquela preocupação exagerada. Quando o bebê já está acostumado, o que acontece por volta dos 12 meses, podemos pensar em um prato mais completo.
“Proteína, carboidrato, legume, leguminosa e verdura são opções importantes para as refeições principais, que são almoço e jantar. No lanche e café, cabe uma fruta. Bebês vegetarianos podem substituir a proteína animal por alimentos que contenham essa substância, priorizando vegetais verde-escuros junto de uma fruta com vitamina C”, indica Marcela.
E o aleitamento? Vai até quando? “A recomendação é até os 2 anos, mas pode passar, sem problemas. Ele é muito benéfico”, completa.
Para ganhar praticidade no dia a dia, a nutricionista é a favor de congelar a refeição. Isso vale, principalmente, neste momento de quarentena, pois muitas famílias estão tendo dificuldade em conciliar home office e a atenção aos filhos. “É uma ótima opção, e o alimento pode ser conversado por 15 a 30 dias.”
Bem, não negamos que a introdução alimentar do bebê é um desafio para muitas famílias, mas, com paciência, é possível tirar isso de letra. O mais importante é estimular a autonomia de pouquinho em pouquinho e, claro, escutar os conselhos do profissional que acompanha de perto o pequeno, combinado?
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*Colaborou com este conteúdo:
Marcela Casali é professora de educação física e nutricionista com especialização em nutrição materno-infantil (FAPES). No consultório, atende gestantes, puérperas, bebês na introdução alimentar e crianças com dificuldades alimentares. Ministra, também, workshops de alimentação saudável na gestação e de introdução alimentar para pequenos grupos.