Depressão pós-parto: sintomas, riscos e como procurar ajuda
A depressão pós-parto pode ser mais perigosa do que você imagina e deve ser enfrentada com tratamento especializado e dedicação de uma rede de apoio.
Muitas mulheres passam por um período excepcionalmente delicado logo após darem à luz os seus filhos: a depressão pós-parto. Ela pode se manifestar por meio de sintomas leves, como indisposição e oscilações de humor, até mais graves, como a rejeição ao bebê.
Se você quer saber mais sobre o assunto, quais são os riscos oferecidos à mãe e como fazer para ajudar, confira este post até o fim. Conversamos com uma especialista no assunto para detalhar os principais sinais, causas e tratamentos da depressão pós-parto.
Continue lendo e confira as explicações da psicóloga Aline Melo de Aguiar, doutora e mestre em psicologia social com ênfase em psicologia do desenvolvimento humano e especialista em Atenção à Saúde Materno-Infantil (UFRJ).
Quais são os sintomas da depressão pós-parto?
“Os principais sintomas da depressão pós-parto incluem insônia, perda de apetite e irritabilidade no humor. Em algumas mulheres, uma dificuldade de criar vínculo com o bebê ou o oposto, um medo muito grande de perder o bebê, de que aconteça alguma coisa ao filho”, explica Aline Melo.
Segundo ela, também são comuns sentimentos de raiva e irritabilidade com as pessoas ao redor, além de mudanças bruscas de humor. A sensação agravada de solidão e tristeza também se destaca como um dos principais sinais do problema.
Mas a psicóloga alerta: “Esses sentimentos precisam ser bem avaliados porque nem todo sentimento de solidão e tristeza no pós-parto está ligado à depressão, já que o processo de se tornar mãe é mesmo muito solitário e envolve mudança de identidade. A mulher está incluindo no seu repertório de identidades mais um papel, que é o papel de mãe”.
Para esclarecer melhor as manifestações do problema, veja a seguir de forma mais detalhada os principais sintomas de depressão pós-parto.
Falta de interesse em atividades que eram prazerosas
É muito comum encontrar entre os sintomas a falta de vontade e disposição para fazer atividades que costumavam ser prazerosas. É normal que as mulheres fiquem mais recolhidas nas primeiras semanas após o parto, mas, mesmo assim, vale redobrar a atenção com as que não demonstram qualquer interesse em hábitos de que costumavam gostar.
Cansaço extremo e injustificado
O período após o parto é mesmo muito cansativo. A privação do sono, a amamentação e a dedicação ao bebê são fatores que afetam a disposição e a energia da mulher. Por isso, até certo ponto, é normal se sentir exausta. O problema acontece quando essa sensação se prolonga e persiste mesmo após aqueles períodos de descanso, como uma noite de sono bem-dormida.
Ansiedade e quadros de agitação
Ambos também são bastante comuns na depressão pós-parto. A própria amamentação, os cuidados com o bebê e a possível perda de apetite da mãe podem ser encarados como fatores estressantes, levando a mulher a uma maior irritabilidade e instabilidade de humor.
De acordo com Aline, a privação de sono provocada pelo ritmo intenso de cuidados com o bebê pode causar dificuldade de concentração na mãe, desencadeando angústia, ansiedade e a sensação de não estar apta para a maternidade.
Insônia ou privação do sono
A chegada de um bebê imprime um ritmo diferente na rotina da mãe. Em muitos casos, isso acaba resultando na privação de sono e no aumento do cansaço que, até certo ponto, pode ser considerado natural.
No entanto, o problema começa a agravar quando a mulher, mesmo naqueles momentos em que tudo está calmo e propício para o descanso, não consegue desacelerar. Os cochilos não ocorrem, e a noite passa a ser um período tortuoso, mesmo que o recém-nascido esteja calmo ou assistido por outro adulto.
Em geral, uma mistura de diversos outros sintomas pode ser experimentada, tal como:
- irritabilidade e intolerância a outras pessoas;
- mudanças bruscas de humor;
- sentimento de solidão e tristeza;
- falta de concentração;
- pensamentos invasivos e repetitivos, como não querer o bebê.
Como estão os dados sobre depressão pós-parto no Brasil?
A depressão pós-parto é um problema de saúde bastante sério no Brasil, onde o número de casos é considerado bem significativo. A prevalência do quadro é de 26% dos casos entre puérperas, um número que está acima da média estimada pela OMS, que é de 20%.
Os efeitos negativos desse problema tendem a se estender. Isso porque podem ocorrer efeitos no desenvolvimento social, cognitivo e afetivo da criança. Inclusive, existe o risco de as sequelas se prolongarem pela infância e a adolescência.
Mas o problema não fica restrito ao Brasil. Um estudo conduzido pela fundação britânica Parent-Infant mostrou que uma em cada 10 mulheres demonstraram dificuldade para criar vínculos com o bebê.
Porém, 73% delas não tinham suporte e orientação sobre o que fazer para aumentar a conexão afetiva nessas relações. O foco estava apenas em se ligar à criança para que o bebê pudesse ter um desenvolvimento saudável. Logo, falta o apoio para a mãe.
Que tipo de risco essa doença traz para a saúde da mulher?
A depressão pós-parto é reconhecidamente prejudicial para a relação entre a mãe e o bebê, já que dificulta o contato e as interações nos primeiros dias de vida do recém-nascido, quando ele mais precisa dessa atenção. Seja por medo de pegar o bebê ou de machucá-lo, assim como por não querer, a mãe acaba provocando um afastamento.
Mas essa não é a única razão pela qual essa doença é prejudicial, afinal, ela também afeta a saúde da mulher. “Uma mulher deprimida vai ter o seu autocuidado diminuído. Ela pode não se alimentar direito e perder muito peso ou, ao contrário, comer apenas o que tiver vontade. E o abuso de álcool também pode acontecer”, destaca Dra. Aline Melo.
Existe uma série de consultas, exames e cuidados pós-parto que devem ser tomados. Isso vai desde a escolha de uma alimentação saudável e equilibrada, que ajude o organismo a se restabelecer, até aspectos emocionais. Portanto, quando está com depressão pós-parto, a mulher tende a ignorar todos esses pontos, colocando em risco a sua saúde física e mental.
Nesse sentido, a psicóloga reforça a importância de incentivar as consultas de retorno ao médico obstetra e, claro, a realização de exames clínicos regulares, até mesmo para descartar o surgimento de outros problemas. Ela lembra que a anemia, por exemplo, pode desencadear sintomas semelhantes ao da depressão e, se não identificada e tratada, causar confusão entre diagnósticos.
Como pedir ajuda a familiares e amigos?
Como dito, a maternidade é muito desafiadora, traz uma série de mudanças e a mulher pode não se sentir pronta para isso. Sendo assim, é bastante comum que ela se sinta insuficiente e culpada, o que leva a autocrítica, autocobrança e julgamentos.
No entanto, é muito importante saber que a depressão pós-parto pode ter uma série de causas e estar relacionada, por exemplo, a alterações hormonais, propensão genética, complicações durante a gravidez, o medo do parto ou problemas durante ele, entre outros fatores.
Portanto, não é culpa da mulher, e é fundamental ter isso em mente para pedir a ajuda de familiares e amigos. Essa mudança de postura em relação a si mesma é o primeiro passo para obter o apoio de outras pessoas.
Em seguida, é preciso identificar alguém de confiança para falar sobre aquilo que está sentindo. Pode ser o parceiro ou parceira, a irmã, a mãe, algum outro familiar, profissionais da saúde ou uma amiga. Existem até mesmo grupos de apoio de mulheres que enfrentam a depressão pós-parto e se ajudam a passar por essa fase delicada.
É essencial não ter vergonha daquilo que está acontecendo porque a depressão pós-parto não é uma escolha. Nenhuma mulher decide se sentir assim, logo, não é preciso sentir culpa pelo que está acontecendo. Trata-se de um ato de coragem encarar o problema de frente e conversar com alguém para se abrir e receber o suporte necessário.
Como oferecer ajuda à pessoa com depressão pós-parto
Antes de tudo, é importante ter atenção aos sintomas da depressão pós-parto. Ao identificar os sinais, é preciso escolher o momento ideal para conversar com a mulher, de modo que ela se sinta à vontade para se abrir e falar sobre aquilo que está sentindo.
Essa primeira abordagem precisa ser feita com muito cuidado para favorecer a receptividade à conversa, evitando uma situação constrangedora ou estressante. Nada deve ser imposto. É essencial respeitar o desejo da mulher para que a abordagem seja adequada às preferências dela.
É indispensável ouvir sem julgamentos e praticar a empatia, além de ressaltar que a depressão pós-parto é comum, pode ser tratada e não tem relação com a competência dela para ser mãe. Palavras carinhosas e de motivação na medida certa ajudam a trazer esperança para uma melhora próxima.
É fundamental reconhecer as dificuldades que existem e, ao mesmo tempo, apontar aspectos positivos e celebrar os progressos para que a mulher perceba que ela é capaz e que a maternidade tem altos e baixos.
Além de tudo isso, procure oferecer ajuda para reduzir a carga de tarefas e afazeres sobre a mulher. Ela vai se sentir apoiada e acolhida, o que contribuirá ainda mais para a sua melhora gradativa.
Como procurar ajuda especializada?
É normal que os sintomas de depressão pós-parto se manifestem ao longo das três primeiras semanas após o parto. Mas é claro que esse prazo pode variar muito de mulher para mulher. Então, nesse caso, o importante é prestar atenção aos comportamentos apresentados.
Se eles perdurarem tempo suficiente para colocar em risco a saúde da mulher ou do bebê, é fundamental buscar ajuda profissional para que um tratamento seja iniciado. São sinais de alerta:
- a falta de apetite constante, afetando no peso da mãe;
- a incapacidade de dormir ou repousar, levando a outros sintomas como dores e estresse agudo;
- a rejeição em relação ao bebê e a incapacidade de amamentar;
- a incidência de crises de ansiedade, pânico ou choro constantes.
Alguns sintomas quando isolados não apresentam risco, mas o ideal é que haja uma avaliação de um especialista.
“A depressão precisa ser encarada como uma doença que tem tratamento. Precisamos desmistificar esse preconceito, como se a depressão fosse alguma coisa sobre a qual a pessoa tivesse controle e pudesse resolver sozinha. Não é. A depressão precisa do acompanhamento do psicólogo, do psiquiatra, muitas vezes fazendo a indicação de medicação e, principalmente, do apoio familiar“, destaca Dra. Aline.
É válido conversar com o obstetra responsável pelos cuidados da mulher a fim de relatar os sintomas que estão acontecendo. Ele recomendará um especialista para se consultar e dar início ao tratamento.
Contudo, o psicólogo pode ser procurado de forma direta. Vale pedir recomendação para outras mulheres que já enfrentaram a depressão pós-parto. Ainda, convém pedir indicação em grupos de mães que lidam com a doença para ter o suporte de especialistas no assunto, aqueles que já estão habituados a tratar de quadros como esse.
Como é feito o tratamento da depressão pós-parto?
“Normalmente, quando a mulher tem depressão pós-parto, ela sente que há algo estranho, mas não necessariamente tem a clareza de estar doente. Muitas vezes, nas consultas de pós-parto, o obstetra e o pediatra são profissionais de saúde extremamente importantes para identificar sinais da depressão e encaminhar a mulher para a terapia e o acompanhamento psiquiátrico“, explica a psicóloga.
A terapia, segundo a especialista, é fundamental no tratamento do quadro. A necessidade de uso de medicação será avaliada por psiquiatra de acordo com a gravidade de cada caso.
Além disso, a família tem um papel importante no processo, da identificação dos sintomas ao acompanhamento do tratamento, seja para fazer companhia ou mesmo para conferir se os remédios estão sendo tomados adequadamente, por exemplo. O mais importante é que a atenção à mãe seja redobrada.
Qual a importância da rede de apoio nesse momento?
O apoio familiar e a formação de uma rede de apoio ou de suporte é fundamental para ajudar na recuperação de alguém com depressão pós-parto. Para isso, é importante que essas pessoas estejam atentas a aspectos como:
- nunca invalidar ou diminuir o sentimento da mãe: ela não precisa do seu julgamento, mas de pessoas que se importam em diminuir o seu desconforto físico e emocional;
- mostrar apoio desde a gestação até o pós-parto: muitas pessoas negligenciam a mãe com a chegada do bebê, então, tente distribuir as atenções igualmente;
- não hesitar em procurar um profissional: se você está percebendo que não dará conta sozinho, é melhor acionar um profissional que inicie um tratamento adequado.
“A família pode ajudar se revezando, dividindo as tarefas para não sobrecarregar a mulher. É fundamental que os familiares acreditem no diagnóstico, não achem que é frescura e não critiquem aquela mulher no seu papel de mãe. Que possam ampará-la no sentido de que ela é a mãe ideal para seu bebê”, recomenda a psicóloga.
“Se a pessoa não puder oferecer ajuda, deve verificar dentro da rede de apoio quais são as pessoas que podem oferecer as ajudas necessárias para o amparo àquela mãe no pós-parto”, complementa.
A depressão pós-parto é uma situação bastante delicada e, normalmente, não é algo percebido pela mulher. Grande parte das mães que chegam aos consultórios desconfiadas de que estão com esse quadro vão recomendadas por pessoas próximas e de confiança que sugeriram isso.
Portanto, o olhar atento dos familiares, companheiros e amigos é tão fundamental quanto o trabalho dos médicos, psicólogos e psiquiatras. Assim, é possível curar a depressão pós-parto e resgatar o relacionamento saudável entre a mãe e o bebê. “Com apoio, medicação e psicoterapia, a gente espera que, em poucas semanas, essa mulher já esteja no caminho da recuperação”, prevê Dra. Aline.
Já que estamos falando sobre o pós-parto, aproveite para conferir neste artigo tudo o que você precisa saber para deixar o puerpério um pouco mais leve.
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